Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo. (Confúcio)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

“Não existe almoço grátis”

Essa máxima liberal tem sido usada ao longo dos últimos anos para criticar, geralmente, as chamadas “leis assistencialistas”, mas ela, com certeza, se aplica bem melhor para jogar um pouco de luz sobre algumas propostas mirabolantes, daqueles que acreditam que os problemas da educação podem ser resolvidos em um passe de mágica, com uma varinha de condão ou um pozinho de pirlimpimpim. Novamente, retorno às ideias do Sr. Gustavo Ioschpe, que o jornal O Globo resolveu apadrinhar, como fica claro no editorial publicado nesta sexta-feira, 08 de julho de 2011.
O IDEB das escolas públicas, como não poderia deixar de ser, é público. Qualquer responsável interessado no bem-estar educacional de suas crianças e adolescentes pode ter acesso a ele facilmente. Muitas vezes é aí que começa o problema. Não pensem que vou colocar toda a responsabilidade do fracasso escolar nas costas das famílias. Não acredito nisso. Mas o fato é que a solução para este problema, não é fácil nem barata. E é preciso antes de tudo analisá-lo com honestidade.
Um lamento que tenho escutado muito nos últimos anos, principalmente após ingressar no magistério público, é: “até os anos 80 a escola pública era boa”, ao qual respondo “era boa porque era excludente, o filho do muito pobre, geralmente o favelado, não tinha condições de estudar nela.” o fato é que, o muito pobre não conseguia estudar na escola pública, pois não conseguia pagar os custos que a “escola gratuita” trazia embutidos: livros, material escolar, uniforme e passagens, só para citar alguns. Desta forma, quem estudava na escola pública eram os filhos da “classe média baixa” (nossa maneira peculiar de tratar o pobre que não se encontra abaixo da linha da miséria). Essas crianças e adolescentes, geralmente, viviam em um ambiente minimamente letrado, com acesso facilitado a bens culturais como literatura, cinema, jornais, revistas e, até mesmo teatro. Lembrem-se os saudosistas da escola pública de “antigamente”; quantos de seus colegas de classe moravam em favelas?
Nas duas últimas décadas foi feita a inclusão na escola pública, mas não se preparou esta escola para esta inclusão. Não quero dizer que não há investimentos. Há muitos: livros, material escolar, uniforme e passagens, são fornecidos pelo Estado, isto sem falar no programa Bolsa Família, mas isto só não basta. Como um jovem oriundo de um ambiente iletrado (considerando aí também a inclusão digital) pode ter sucesso na escola? Não, não acho que a “culpa é da família”, como já disse, e por isso escrevi “ambiente iletrado”. A responsabilidade é de toda a sociedade. O que o jovem, com muita má vontade, aprende na escola, (não se valoriza aquilo que o seu meio não valoriza) ele esquece quando retorna ao seu ambiente iletrado, ou pouco letrado. Daí a enorme dificuldade com coisas corriqueiras da vida escolar, como o dever de casa. Na maioria dos casos a criança e o adolescente sequer tem um “adulto responsável” durante o dia para supervisioná-lo. Os responsáveis precisam “ganhar a vida”, colocar comida na mesa. A única solução para isso, em minha opinião, e aí entra a razão do título, é a escola integral, onde a criança e o adolescente tenham aulas das disciplinas pela manhã, almocem, façam atividades esportivas e culturais, no período da tarde, frequentem classes de estudo, com supervisão de professores, que os auxiliem nos “trabalhos para casa”, e tenham acesso ao desenvolvimento de uma cultura letrada em salas de leitura e de informática.
Se a sociedade quer um futuro melhor, com diminuição da violência, com crescimento econômico sustentável, com uma sociedade mais justa, “de primeiro mundo”, não há outro caminho. Não tem pó de pirlimpimpim, nem este chamado “gestão”. Há desperdício de verbas? Claro que há. Há corrupção e desvios? Evidente que há. Acabando com esses dois problemas com uma boa gestão se resolve o problema da educação? Sonoramente afirmo NÃO! O que o Sr. Gustavo Ioschpe, e a classe política que ele representa não entendem, é isso. Se queremos realmente alcançar os objetivos colocados no início do parágrafo, é preciso investir muito mais do que já foi investido. Pode-se colocar quantas placas quiserem na porta das escolas, a situação não vai mudar. “Não existe almoço grátis”.

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