Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo. (Confúcio)

domingo, 23 de outubro de 2011

Hitler e a religião.

Resolvi entrar em uma polêmica. Um dos meus amigos no facebook comentou uma fotografia em que aparecia Hitler com a tarjeta “católico”, e Chaplin com a tarjeta “ateu”. A ideia de Hitler como um homem religioso é por demais absurda para merecer uma resposta, contudo, os comentários à postagem, munidos de certa paixão, contra ou a favor da veracidade da informação trazida na foto, me motivaram a aprofundar o tema.
Nunca representou para mim nenhuma dúvida, o desprezo que o nazismo apresentava em relação ao cristianismo. Religião de escravos, portanto, inconsistente com a glória ariana, que a vitória do nazismo construiria.
Por que então, tanta polêmica?
Fiz o que qualquer pessoa séria deveria fazer quando colocado à frente de uma questão. Pesquisei. Procurei conhecer melhor o objeto da polêmica antes de me posicionar. O cerne da questão é uma citação do Mein Kampf em que Hitler parece lamentar o mau uso da fé católica. O trecho é esse a seguir:

“O fato de muita gente, na Alemanha de antes da Guerra, não gostar da religião, deve-se atribuir à deturpação do cristianismo pelo chamado Partido Cristão e pela despudorada tentativa de confundir a fé católica com um partido político.” (Mein kampf, p. 118, versão em PDF)

Estaria neste trecho comprovada a origem católica do pensamento hitlerista. Tal absurdo somente pode ser considerado mediante o fanatismo, seja daqueles que seguindo a linha de alguns ateus radicais querem ver na religião a causa de todos os males da humanidade ou, seja de um grupo de protestantes anticatólicos, que apelam ao absurdo para tentar mostrar a superioridade da sua crença. Os mesmos que afirmam ser a Igreja Católica “partidária do demônio”. Felizmente esses não representam a verdadeira religião protestante.
Retornando à questão central, sabemos que o uso de frases fora do contexto prestam-se às mais variadas interpretações, e são a melhor forma de deturpar e mentir.
Sugiro um exercício àqueles que estão sinceramente interessados no tema. Baixem uma versão do Mein Kampf da internet, preferencialmente em pdf, pois facilitará a pesquisa, e vasculhem o texto (usando a ferramenta “localizar”) com as seguintes palavras-chaves: cristão, cristianismo, católica, catolicismo, protestante. Alguns ficaram surpresos com o que vão encontrar. Verão que o que Hitler faz é uma análise do movimento político partidário cristão na Alemanha, e as razões do seu fracasso em “salvar” o país da “ameaça dos judeus”. Acharão também a ideia de que o movimento de salvação do país deve se basear no fanatismo e na exclusão das doutrinas concorrentes, assim como ele acredita que o cristianismo fez com o paganismo. Por fim, verão a crítica à divisão do cristianismo entre católicos e protestantes, pois esta obscureceu o “verdadeiro inimigo”: o judaísmo. Hitler não era, quando escreveu Mein Kampf, nem cristão, nem católico, ele procurou apenas analisar o cristianismo como movimento político-social e não como religião. Somente a ignorância de uns e a leviandade de outros pode sustentar a afirmação de que Hitler era cristão, ou mesmo católico.
Para terminar, usem a mesma estratégia usando as palavras-chaves Jesus e Cristo. Alguns se surpreenderão ao ver que estas não serão encontradas.