Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo. (Confúcio)

sábado, 13 de outubro de 2012

O PT, o mensalão, Lula e Eu.

Durante as últimas semanas tenho acompanhado com atenção os acontecimentos do julgamento, do que tem sido chamado pela imprensa de “mensalão do PT”. Na verdade aí já surge para mim uma primeira questão; por que “mensalão do PT”, alguém pode estar pensando, “ora que ignorância! É do PT por que foi feito por políticos do Partido dos Trabalhadores!” Sim, parece óbvia a explicação. Mas então pergunto eu, por que o “mensalão mineiro” não é chamado de “mensalão do PSDB”, pela imprensa? Qual seria o objetivo desta, não tão pequena, diferença? Para mim o objetivo está muito claro, a grande imprensa, única força de oposição real (no sentido de com força real) no Brasil tenta utilizar o julgamento do mensalão como instrumento de desconstrução do PT como partido popular, como partido voltado para os interesses do povo brasileiro. Não tem conseguido o seu intento, como demonstram os resultados das eleições deste ano, e que poderão ser ainda mais contundentes se a vitória em São Paulo vier mesmo.

Sobre isso, tão logo saíram os resultados das eleições, começaram a “chover” nas redes sociais as lamuriações dos segmentos privilegiados da sociedade brasileira, do tipo: “o povo não sabe votar” “é o voto comprado com o bolsa família e os programas sociais”. Na velha arrogância de uma elite que durante 160 anos de independência e 100 anos de República negou cidadania aos pobres, primeiro de forma explicita com o voto censitário, durante o Império, depois de forma disfarçada, com a proibição do voto dos analfabetos, na República, até 1988. Os que criticam como os pobres votam, em muitos casos, são os mesmos que sempre criticaram o voto dos analfabetos. Não custa lembrar que a mesma elite que negava o voto aos analfabetos, durante toda a história da nação achou desnecessário investir na educação do povo, quadro que só começou a ser revertido nas últimas duas décadas.

Voltando ao julgamento do “mensalão do PT” no STF, devo dizer que ele me causa três incômodos. Primeiro me incomoda o fato em si. Explico. A necessidade que ainda existe para um partido de objetivos legítimos, como o PT, ter de se unir a um esquema viciado de se fazer política para governar. Foi assim também com o PSDB, com sua aliança com o PFL. O PT para poder governar e implantar as reformas que pretendia, precisou comprar apoio no Congresso, e nesse processo alguns membros do partido acabaram cedendo à tentação do dinheiro disponível, fácil. Uma parte dos integrantes da cúpula do PT se permitiu macular, e com isso maculou a imagem do partido como um todo, pois permitiu a imprensa conservadora tentar descontruir o PT como um partido progressista.

O segundo incômodo está relacionado ao clima de “lavagem da honra nacional” que a condenação de políticos ligados ao PT está ganhando na classe média e na elite intelectual do país. Claro que este sentimento está sendo alimentado pela imprensa oposicionista, mas muitos estão entrando nisso sem a devida reflexão. Aderem à tese falaciosa de que o PT inventou estas práticas, que é o partido, e o governo, “mais corrupto da nossa história”. Como historiador não posso concordar nem com uma afirmação nem com a outra. O PT não inventou este esquema, que como dito acima foi utilizado por outros partidos, antes mesmo do PT, como no caso do “mensalão do PSDB”, ou na compra de votos para a emenda da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, ou mesmo na compra de votos para a reforma da previdência feita por FHC, quando este usou dinheiro do Banco do Brasil para comprar o apoio da Bancada ruralista, que nascia para o cenário político brasileiro. Assim como é fácil comprovar que o PT não inventou esse esquema, é ainda mais fácil encontrar na história brasileira governos onde a corrupção foi muito mais problemática, mas, no entanto, acobertada pela imprensa adesista.

Por fim, o terceiro incômodo vem da jurisprudência criada por este julgamento. Digo logo que concordo com todas as punições dadas pelo STF, exceto uma. Lamento pela biografia de José Genoíno, mas contra ele havia prova material. Lamento, ou melhor, me preocupa a condenação de José Dirceu. Não nutro nenhuma simpatia pelo ex-ministro, meu lamento não é por ele, mas pelo que pode acontecer para todos nós cidadãos em função da sua condenação. O fato é que não há nenhuma prova material, concreta, contra José Dirceu. Apenas indícios circunstanciais e o testemunho de Roberto Jefferson. A maior prova da veracidade do que afirmo é a necessidade presente nos votos de todos os que o condenaram de reafirmar a certeza pública da sua culpa. “É público e notório que José Dirceu comandava o PT”, “um esquema como esse tinha de ter um chefe” ou, “Delúbio não agiria a revelia da direção do PT”, e “era sabido por todos que José Dirceu comandava o PT”. Ou seja, Dirceu foi condenado de forma subjetiva, por uma “certeza” que os Ministros do STF tinham de que ele era culpado, não pelas provas. Também tenho certeza que José Dirceu era o chefe deste esquema, mas eu não o condenaria. Pois condená-lo é abrir uma brecha para que qualquer um de nós possa ser condenado no futuro apenas com base no testemunho de alguém que não simpatize conosco.

Para começar a encerrar este já longo artigo, gostaria de tratar do ódio visceral que algumas pessoas direcionam ao PT, e em especial ao ex-presidente Lula. Tudo é motivo para criticá-lo, até mesmo o seu câncer foi usado para tentar desconstruir a imagem do ex-presidente. O que fez Lula de tão ruim? Os dados do último censo do IBGE mostram que todos os índices sociais do Brasil na última década, “a década de Lula”, melhoraram. Nunca houve tanto investimento na educação básica (ainda é pouco), tanto que ocorreu uma melhoria de 10% no desempenho, para citar apenas um exemplo. Outra coisa que pode ser apresentado é a diminuição da pobreza. No final do governo de FHC a faixa da pobreza estava em torno 44%, hoje esta na faixa de 22%. Qual o motivo de tanto ódio? Tenho para mim que a razão está no fato de Lula ter um defeito de origem. Mais do que ser oriundo da pobreza, Lula ascendeu socialmente/politicamente sem romper com ela. Não fez faculdade, não refinou seus hábitos, continua a preferir uma boa cachaça a um vinho importado, por exemplo. Lula não acende incenso no altar da nossa elite que “está de frente para o mar, de costa para o Brasil”. Esse é um pecado muito grave. A elite política e intelectual do Brasil não se conforma até hoje com o fato de Lula não ter aceitado ser o braço operário dos partidos políticos progressistas, e ter ele mesmo se apresentado como alternativa para os trabalhadores.

Por fim repercutiu muito na imprensa (afinal a intenção era esta), a declaração do presidente do STF, sobre o caráter ilegítimo do projeto de poder do PT, que seria o fim último do “mensalão”. Esta fala para mim (inadequado juízo de valor para um magistrado que deveria ser neutro), é deveras reveladora da politização do julgamento. Politização que os críticos do governo insistem em negar. Se fosse tão evidente a inexistência desta politização, ela não precisaria ser negada com tanta ênfase. Eu pelo meu lado afirmo que qualquer projeto de permanência no poder é legitimo, desde que apoiado no voto livre e universal dos cidadãos. Enquanto o povo entender que o projeto do PT é o melhor para a sua vida, o Partido dos Trabalhadores continuará a ganhar eleições. Isso tira o sono das nossas elites.

Quanto a mim continuo petista, apenas abandonei a ilusão que o PT estava imune à corrupção, em função da sua pureza ideológica. Infelizmente o PT, como todos os partidos, é formado por homens, e os homens são falhos. O que precisamos e separar o joio do trigo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sobre sopas e pipas.

Neste período de férias, onde tenho procurado refrescar a cabeça para encarar mais um ano de trabalho, uma das coisas que me chamou a atenção é a polêmica sobre a aprovação de leis antipirataria nos EUA, o Stop Online Piracy Act (SOPA) e o Project IP Act (PIPA). Resumindo, a tentativa da indústria da mídia em controlar a internet, transformando-a em um mercado fechado.
Nada contra a que empresas ganhem dinheiro com a internet, apenas não acho correto que se tire a opção, o direito de escolha.
Vou contar dois casos que exemplificam o prejuízo que essas leis podem causar, e como na verdade apenas servem de abrigo para a incompetência e arrogância da indústria.
Em 2008 fui mordido pelo mosquito da febre de colecionador. No meu caso séries de ficção científica. Como todo bom fã deste tipo de filme, sempre adorei o universo Jornada nas Estrelas. Como não havia conseguido acompanhar as séries até o final (devido a irregularidade da exibição no Brasil), resolvi comprar os pacotes. Comprei em loja todos os que estavam disponíveis, a saber: toda a série Jornadas nas Estrelas: a Nova Geração, as três primeiras temporadas de Deep Space Nine e as duas primeiras temporadas de Voyager. Depois de vários meses aguardando o lançamento dos demais pacotes (cada série possuiu sete temporadas), enviei um e-mail à Universal solicitando informações sobre o lançamento dos demais pacotes. A lacônica resposta dizia que o lançamento estava nos planos da empresa. Só isso, sem data, sem nada, principalmente, sem nenhum respeito ao consumidor. Nada podia fazer a não ser vociferar alguns impropérios contra a Universal.
Passados alguns meses, um amigo me sugeriu um desses sites que disponibilizam downloads de séries na internet. Resisti um pouco, pois sempre fui, e continuo sendo contra a pirataria digital, mas quando percebi que todas as temporadas que eu desejava estavam lá disponíveis resolvi baixá-las. Lembro-me que ainda pensei “se algum dia a universal lançar os pacotes eu compro todos eles” isso satisfez a minha consciência. Até hoje estou esperando.
No mesmo site vi que outras séries de ficção científica, que não consegui acompanhar na época em que foram exibidas estavam disponíveis. Refiro-me a Babylon 5 e FarScape One, novamente para acalmar a consciência, procurei nas lojas, físicas e onlines, e nada. Baixei as duas e estou assistindo.
Apenas para registro Comprei em loja a série Galactica e todos os 16 pacotes da franquia Stargate.
Antes de concluir, e aproveitando a série Stargate, contarei mais um caso. Para completar a minha coleção Stargate faltava um versão em dvd do filme original. Novamente não consegui no mercado nacional, tive de importar uma cópia da edição de colecionador norte-americana (região 1) sem legendas em português. Nestas férias arrumei um projeto de distração: produzir uma cópia legendada do filme. Ripei meu dvd, comprado, e baixei as legendas em português. Pensei, agora é só juntar tudo. Ledo engano, a legenda estava fora de sincronia e em português de Portugal. Baixei um programa para trabalhar legendas, sincronizei as legendas com a minha versão do filme e traduzi para o português brasileiro. Tenho agora uma cópia do filme legendado como queria.
Concluindo, se estas leis forem aprovadas a liberdade de não ficar dependente da vontade e do interesse comercial das empresas vai acabar. Mesmo aqueles, como eu, que tem escrúpulos que limitam a sanha dos downloads, ficaremos sem opção. Escravos das decisões de alguns poucos executivos das empresas de mídia. Que se recusam a usar de criatividade para ganhar dinheiro, e querem impedir aqueles que o fazem.
Só para registro, todas essas horas de downloads foram através de serviço pago, para ir mais rápido. Não tenho paciência para ficar semanas ou meses para finalizar uma coisa.
Resistance is not futile.