Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo. (Confúcio)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Uma questão de mérito?

Acabei de ler mais uma matéria que apresenta a solução definitiva para a a educação. Como sempre a invocação da poção mágica da vez: mérito. Na verdade a premiação pelo mérito. Políticos, administradores, “especialistas” em geral já sabem como resolver o problema: mérito. Outro elemento recorrente nestas matérias é o reconhecimento, geralmente escondido no fim de algum parágrafo, de que o salário do professor é baixo, mas, geralmente, também, acompanhado da ressalva que só aumento do salário não basta, é preciso: mérito.
Uma pergunta fica sempre me minha cabeça quando leio este tipo de matéria: como se mede o mérito do trabalho do professor? Pelo número de aprovados? Pelo número de reprovados? Pela assiduidade no trabalho? Como? A verdade é que todos estes números são manipuláveis para expressar o que se deseja, portanto, são falhos! Exames externos? Podem ser um auxiliar no diagnóstico de problemas, mas também podem ser deturpados por implicância do grupo de alunos com professores ou com a direção da escola. Um exemplo disso foi o boicote que os alunos de universidades públicas fizeram ao provão quando este foi implantado. Como o resultado não os afetaria, simplesmente, não se importavam em zerar as provas. Outro elemento é o desconhecimento por parte dos alunos e responsáveis da importância de uma avaliação externa. A consequência disso, nós professores conhecemos, alunos que faltam nos dias de prova, marcam aleatoriamente as questões apenas para acabar a prova e sair da sala. Novamente pergunto: como medir o tal do mérito?
A resposta é simples, não existe pó de perlimpimpim para resolver o problema da educação. Sabe o porque dos professores só falarem do salário? Simples, porque ele é baixo para a formação que se exige e para o esforço que demanda uma boa aula! A equação do maior salário é: menos tempo em sala de aula mais melhor planejamento é igual à aula melhor. A consequência é melhoria no desempenho do professor.
Não sou contra fiscalização externa, inclusive com exames. Não sou contra que se cobre desempenho dos professores, trabalho há dez anos na iniciativa privada onde você é cobrado todo dia. O que me incomoda é que a culpa é sempre do professor, a sociedade e o Estado fingem que nada tem a ver com o problema, só o professor. Aquele que nunca é ouvido, pois “só sabe reclamar do salário”.
Agora a moda é dizer que a culpa é dos cursos de pedagogia que só atraem “favelados” (eles não usam o termo mas é o sentido do que querem dizer, quando usam o eufemismo “pessoas menos preparadas”). Assim não vamos a lugar nenhum!
Sobre o mérito do professor, seria melhor trabalhado com formação continuada, financiada pelo Estado e obrigatória. Vamos exigir pós-graduação, em todos os níveis, vamos fornecer oficinas. Se o professor tiver condições de se manter atualizado e renovado ele, com absoluta certeza, repercutirá isso em suas aulas. Porém... para que isso ocorra é preciso remunerar bem. Não existe pozinho mágico. Enquanto professor tiver que dar 40, 50, 60 horas de aula por semana para ter uma vida melhor, não terá tempo para formação continuada e a qualidade não irá melhorar.