Durante as últimas semanas tenho
acompanhado com atenção os acontecimentos do julgamento, do que tem sido
chamado pela imprensa de “mensalão do PT”. Na verdade aí já surge para mim uma
primeira questão; por que “mensalão do PT”, alguém pode estar pensando, “ora
que ignorância! É do PT por que foi feito por políticos do Partido dos
Trabalhadores!” Sim, parece óbvia a explicação. Mas então pergunto eu, por que
o “mensalão mineiro” não é chamado de “mensalão do PSDB”, pela imprensa? Qual seria
o objetivo desta, não tão pequena, diferença? Para mim o objetivo está muito
claro, a grande imprensa, única força de oposição real (no sentido de com força
real) no Brasil tenta utilizar o julgamento do mensalão como instrumento de
desconstrução do PT como partido popular, como partido voltado para os
interesses do povo brasileiro. Não tem conseguido o seu intento, como
demonstram os resultados das eleições deste ano, e que poderão ser ainda mais
contundentes se a vitória em São Paulo vier mesmo.
Sobre isso, tão logo saíram os
resultados das eleições, começaram a “chover” nas redes sociais as lamuriações
dos segmentos privilegiados da sociedade brasileira, do tipo: “o povo não sabe
votar” “é o voto comprado com o bolsa família e os programas sociais”. Na velha
arrogância de uma elite que durante 160 anos de independência e 100 anos de
República negou cidadania aos pobres, primeiro de forma explicita com o voto
censitário, durante o Império, depois de forma disfarçada, com a proibição do
voto dos analfabetos, na República, até 1988. Os que criticam como os pobres
votam, em muitos casos, são os mesmos que sempre criticaram o voto dos analfabetos.
Não custa lembrar que a mesma elite que negava o voto aos analfabetos, durante
toda a história da nação achou desnecessário investir na educação do povo,
quadro que só começou a ser revertido nas últimas duas décadas.
Voltando ao julgamento do “mensalão
do PT” no STF, devo dizer que ele me causa três incômodos. Primeiro me incomoda
o fato em si. Explico. A necessidade que ainda existe para um partido de objetivos
legítimos, como o PT, ter de se unir a um esquema viciado de se fazer política
para governar. Foi assim também com o PSDB, com sua aliança com o PFL. O PT
para poder governar e implantar as reformas que pretendia, precisou comprar
apoio no Congresso, e nesse processo alguns membros do partido acabaram cedendo
à tentação do dinheiro disponível, fácil. Uma parte dos integrantes da cúpula
do PT se permitiu macular, e com isso maculou a imagem do partido como um todo,
pois permitiu a imprensa conservadora tentar descontruir o PT como um partido
progressista.
O segundo incômodo está
relacionado ao clima de “lavagem da honra nacional” que a condenação de políticos
ligados ao PT está ganhando na classe média e na elite intelectual do país.
Claro que este sentimento está sendo alimentado pela imprensa oposicionista,
mas muitos estão entrando nisso sem a devida reflexão. Aderem à tese falaciosa
de que o PT inventou estas práticas, que é o partido, e o governo, “mais corrupto
da nossa história”. Como historiador não posso concordar nem com uma afirmação
nem com a outra. O PT não inventou este esquema, que como dito acima foi
utilizado por outros partidos, antes mesmo do PT, como no caso do “mensalão do
PSDB”, ou na compra de votos para a emenda da reeleição de Fernando Henrique
Cardoso, ou mesmo na compra de votos para a reforma da previdência feita
por FHC, quando este usou dinheiro do Banco do Brasil para comprar o apoio da
Bancada ruralista, que nascia para o cenário político brasileiro. Assim como é
fácil comprovar que o PT não inventou esse esquema, é ainda mais fácil encontrar
na história brasileira governos onde a corrupção foi muito mais problemática,
mas, no entanto, acobertada pela imprensa adesista.
Por fim, o terceiro incômodo
vem da jurisprudência criada por este julgamento. Digo logo que concordo com
todas as punições dadas pelo STF, exceto uma. Lamento pela biografia de José
Genoíno, mas contra ele havia prova material. Lamento, ou melhor, me preocupa a
condenação de José Dirceu. Não nutro nenhuma simpatia pelo ex-ministro, meu
lamento não é por ele, mas pelo que pode acontecer para todos nós cidadãos em
função da sua condenação. O fato é que não há nenhuma prova material, concreta,
contra José Dirceu. Apenas indícios circunstanciais e o testemunho de Roberto
Jefferson. A maior prova da veracidade do que afirmo é a necessidade presente
nos votos de todos os que o condenaram de reafirmar a certeza pública da sua
culpa. “É público e notório que José Dirceu comandava o PT”, “um esquema como
esse tinha de ter um chefe” ou, “Delúbio não agiria a revelia da direção do PT”,
e “era sabido por todos que José Dirceu comandava o PT”. Ou seja, Dirceu foi
condenado de forma subjetiva, por uma “certeza” que os Ministros do STF tinham
de que ele era culpado, não pelas provas. Também tenho certeza que José Dirceu
era o chefe deste esquema, mas eu não o condenaria. Pois condená-lo é abrir uma
brecha para que qualquer um de nós possa ser condenado no futuro apenas com
base no testemunho de alguém que não simpatize conosco.
Para começar a encerrar este
já longo artigo, gostaria de tratar do ódio visceral que algumas pessoas
direcionam ao PT, e em especial ao ex-presidente Lula. Tudo é motivo para
criticá-lo, até mesmo o seu câncer foi usado para tentar desconstruir a imagem
do ex-presidente. O que fez Lula de tão ruim? Os dados do último censo do IBGE
mostram que todos os índices sociais do Brasil na última década, “a década de
Lula”, melhoraram. Nunca houve tanto investimento na educação básica (ainda é pouco),
tanto que ocorreu uma melhoria de 10% no desempenho, para citar apenas um
exemplo. Outra coisa que pode ser apresentado é a diminuição da pobreza. No final
do governo de FHC a faixa da pobreza estava em torno 44%, hoje esta na faixa de
22%. Qual o motivo de tanto ódio? Tenho para mim que a razão está no fato de
Lula ter um defeito de origem. Mais do que ser oriundo da pobreza, Lula
ascendeu socialmente/politicamente sem romper com ela. Não fez faculdade, não refinou
seus hábitos, continua a preferir uma boa cachaça a um vinho importado, por
exemplo. Lula não acende incenso no altar da nossa elite que “está de frente
para o mar, de costa para o Brasil”. Esse é um pecado muito grave. A elite
política e intelectual do Brasil não se conforma até hoje com o fato de Lula
não ter aceitado ser o braço operário dos partidos políticos progressistas, e
ter ele mesmo se apresentado como alternativa para os trabalhadores.
Por fim repercutiu muito na
imprensa (afinal a intenção era esta), a declaração do presidente do STF, sobre
o caráter ilegítimo do projeto de poder do PT, que seria o fim último do “mensalão”.
Esta fala para mim (inadequado juízo de valor para um magistrado que deveria
ser neutro), é deveras reveladora da politização do julgamento. Politização que
os críticos do governo insistem em negar. Se fosse tão evidente a inexistência
desta politização, ela não precisaria ser negada com tanta ênfase. Eu pelo meu
lado afirmo que qualquer projeto de permanência no poder é legitimo, desde que
apoiado no voto livre e universal dos cidadãos. Enquanto o povo entender que o projeto
do PT é o melhor para a sua vida, o Partido dos Trabalhadores continuará a
ganhar eleições. Isso tira o sono das nossas elites.
Quanto a mim continuo
petista, apenas abandonei a ilusão que o PT estava imune à corrupção, em função
da sua pureza ideológica. Infelizmente o PT, como todos os partidos, é formado
por homens, e os homens são falhos. O que precisamos e separar o joio do trigo.
Caro senhor Santa Rita, se a falha do PT é apenas de caráter humano, o senhor quer dizer que partido nenhum é ruim?
ResponderExcluirPois todas as falhas na política tem "dedo sujo" humano.
Por que ser petista ao invés de apoiar políticos de qualquer outro partido, desde de que tenha ficha limpa?
Quanto ao "motivo" que levou o PT a aderir ao mensalão, por mais que a intenção fosse boa, ainda é um ato passivo de punição.
ResponderExcluirE a "raiva" de muitos sobre o Lula, foi de ter feito vista grossa e ter fingido que não sabia.
Sabemos o que incomoda a elite...
Mais nossa política só existe uma solução (em duas etapas): punição severa a corrupção e reformulação partidária onde todas a camadas governem em função da presidência, e não por interesses partidários.
Trata-se do modo de produção asiático onde Marx utilizando-se desse modelo afirma que a classe dominante (politicos) utilizam da ideologia para manter a base trabalhadora na infraestrutura ou seja apenas trabalhando e mantendo essa corja pelo suor de seus rostos, o mesmo fez o PT e os demais partidos políticos pregando ideologias para prender seus seguidores.
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